Compreender o fenómeno da droga na Europa em 2025 — principais desenvolvimentos (Relatório Europeu sobre Drogas de 2025)

A análise mais recente da EUDA sobre o fenómeno das drogas na Europa revela um mercado simultaneamente resiliente e influenciado pelos desenvolvimentos em curso a nível mundial. Os problemas de saúde e segurança persistentes colocados pelas drogas ilícitas tradicionais e mais recentes — e, cada vez mais, a interação entre si — criam um contexto político difícil para a conceção e implementação de respostas eficazes. O Relatório Europeu sobre Drogas de 2025 traça um retrato da situação das drogas na Europa com base nos últimos dados disponíveis. A presente secção introdutória formula um comentário analítico sobre algumas das questões importantes que constam atualmente da agenda europeia de políticas em matéria de droga.
Esta página faz parte do Relatório Europeu sobre Drogas de 2025, a síntese anual da EUDA sobre a situação das drogas na Europa.
Última atualização: 5 de junho de 2025
Garantir a preparação da Europa para a evolução dos problemas relacionados com as drogas

O mercado europeu da droga está a evoluir rapidamente, à medida que tanto os fornecedores como os consumidores encontram formas de se adaptarem à instabilidade geopolítica, à globalização e aos avanços tecnológicos. Tal parece resultar na disponibilidade de uma gama mais diversificada de substâncias, muitas vezes de elevada potência e pureza, que representam novos riscos para a saúde pública. Ao mesmo tempo, os acontecimentos mundiais ameaçam levar ao limite as capacidades de resposta da Europa, uma vez que a complexidade e a escala do problema continuam a aumentar.
O impacto dos desenvolvimentos a que estamos a assistir significa que todos são, de alguma forma, suscetíveis de serem afetados pelo consumo de drogas ilícitas, pelo funcionamento do mercado das drogas e pelos problemas que lhe estão associados. Diretamente, vemos isto nas pessoas que desenvolvem problemas e necessitam de tratamento ou outros serviços. Indiretamente, vemos isto no recrutamento de jovens vulneráveis para a criminalidade, na pressão sobre os orçamentos da saúde e nos custos sociais para as comunidades que se sentem inseguras ou em que as instituições ou empresas são prejudicadas pela corrupção ou pela criminalidade. Não podemos evitar o facto de as questões relacionadas com a droga terem um impacto em quase toda a parte, manifestando-se e agravando outros problemas políticos complexos, como o problema dos sem-abrigo, a gestão de distúrbios psiquiátricos e a criminalidade juvenil. Em alguns países, estamos a assistir também a níveis mais elevados de violência e corrupção impulsionados pelo mercado das drogas. Observamos cada vez mais que quase tudo com propriedades psicoativas pode aparecer no mercado da droga, muitas vezes com rótulos errados ou em misturas, deixando os consumidores potencialmente inconscientes do que estão a consumir, aumentando os riscos para a saúde e criando novos desafios em termos de aplicação da lei e de regulamentação.
A EUDA está empenhada em aumentar o grau de preparação da Europa em matéria de drogas ilícitas e novas substâncias psicoativas, apoiando a União Europeia e os seus Estados-Membros através de um novo modelo de serviços interligados. O Relatório Europeu sobre Drogas apoia este trabalho, salientando as tendências mais recentes e as ameaças emergentes para os decisores políticos e os profissionais no domínio das drogas, a fim de informar os seus esforços e apoiar o desenvolvimento de respostas atempadas e baseadas em dados concretos a novos problemas relacionados com as drogas.
Agência da União Europeia sobre Drogas — apoiar a resposta a um panorama em mudança no domínio das drogas

Na Europa, é hoje mais provável do que antes que ocorram mudanças repentinas nas substâncias disponíveis nos mercados locais de droga, o que conduz a uma maior incerteza quanto aos danos a que as pessoas que as consomem podem estar expostas. As novas substâncias têm vindo a ser cada vez mais integradas no mercado europeu de drogas ilícitas, visando uma vasta gama de consumidores, desde os ocasionais e socialmente integrados até aos que apresentam padrões de consumo problemáticos e vivem em situação de marginalização social.
Na sequência da transformação do EMCDDA em EUDA, em julho de 2024, a Agência está mais bem equipada para responder a estes desafios e o seu papel proativo foi reforçado, fortalecendo a sua missão de apoiar a preparação da União Europeia e dos seus Estados-Membros com uma gama de serviços de elevada qualidade centrados no cliente. No âmbito do novo mandato, a EUDA utilizará análises de peritos para apoiar avaliações e respostas quase em tempo real a problemas emergentes de drogas, quer se trate de ameaças de novas drogas, precursores ou de desafios tecnológicos e do mercado de drogas interligados a nível mundial.
Com novos opióides sintéticos potentes, como os nitazenos, disponíveis na União Europeia e que criam riscos graves para a saúde, é essencial melhorar a capacidade da Europa para identificar novas substâncias, determinar o grau de pureza das drogas e proceder à definição de perfis farmacológicos para clarificar as substâncias que estão a ser vendidas. Para o efeito, a EUDA está a desenvolver uma rede de laboratórios forenses e toxicológicos nacionais, apoiando o desenvolvimento de normas de qualidade neste importante domínio.
Os surtos de intoxicação podem agravar-se rapidamente, como se verificou com os canabinoides sintéticos e os opiáceos nitazenos. O Sistema de Alerta Rápido da UE sobre novas substâncias psicoativas continua a ser um apoio essencial para a sensibilização e a resposta a nível nacional e da UE às drogas novas e controladas. Permite o intercâmbio de informações, recomendações, alertas, alertas rápidos e avaliações de risco. Em complemento, o sistema europeu de alerta sobre drogas apoiará as atividades de preparação e resposta da UE e nacionais a riscos graves relacionados com as drogas, através do rápido intercâmbio de informações, alertas específicos e outras comunicações de risco.
O sistema de avaliação das ameaças para a saúde e a segurança da EUDA está atualmente a ser desenvolvido como uma nova capacidade para apoiar a preparação e a ação estratégica em resposta às ameaças emergentes relacionadas com as drogas na União Europeia. No final de 2024, a Agência concluiu uma avaliação-piloto das ameaças, que se centrou nos opióides sintéticos altamente potentes na região do Báltico. As avaliações das ameaças são desenvolvidas em estreita colaboração com peritos nacionais e baseiam-se em múltiplas fontes de dados e contributos multidisciplinares. Fornecem uma análise estruturada da situação e propõem opções de resposta escalonadas para ajudar a atenuar a ameaça tanto a nível nacional como a nível da UE.
A situação das drogas na Europa em 2025 — Uma panorâmica
Os fluxos de drogas ilícitas resilientes mantêm uma elevada disponibilidade na Europa

A análise dos indicadores relacionados com a oferta de drogas ilícitas na União Europeia sugere que os fluxos de drogas parecem ser resilientes a muitas alterações do mercado, com a disponibilidade a permanecer elevada em todos os tipos de substâncias. Existe uma disponibilidade generalizada de uma gama mais vasta de drogas, frequentemente de elevada potência ou pureza, quanto às quais se sabe pouco sobre os riscos que colocam para a saúde. No caso de algumas drogas, como a canábis, verifica-se uma diversificação crescente dos produtos de consumo disponíveis no mercado (como óleos, extratos, produtos comestíveis e produtos para vaporização). Relativamente à cocaína, os níveis de apreensões comunicados na Europa continuam a aumentar de ano para ano. No que respeita às drogas sintéticas, como as anfetaminas, a MDMA e as catinonas, há provas de aumento da produção na Europa, temendo-se que esta produção local, mais próxima dos mercados de consumo, possa desencadear mudanças mais rápidas nas tendências de consumo. A crescente integração de novos estimulantes no mercado de drogas ilícitas da Europa, a par de substâncias ilícitas de consumo mais comum, coloca desafios em evolução em termos da sensibilidade dos sistemas de monitorização existentes aos danos emergentes e da adequação das respostas dadas.
Comércio transfronteiriço comercial explorado pelas redes de tráfico de droga

A globalização teve um impacto significativo na disponibilidade de droga na Europa, uma vez que os criminosos exploram as crescentes oportunidades de tráfico proporcionadas por redes de comunicação, comércio e transporte mais interligadas. A infiltração das rotas de transporte marítimo e o tráfico de quantidades a granel de drogas em contentores comerciais intermodais continuam a abastecer o mercado de drogas da Europa. O comércio globalizado é explorado para facilitar a aquisição de produtos químicos e de equipamentos utilizados na produção de drogas ilícitas, estando os produtores e traficantes de droga europeus mais estreitamente ligados a redes criminosas internacionais.
A resiliência do tráfico de drogas ilícitas através de cadeias de abastecimento comerciais reflete-se nas grandes apreensões de droga nos portos europeus. Em 2024, a Espanha registou a maior apreensão de sempre de cocaína num único carregamento: 13 toneladas, escondidas em bananas originárias do Equador. A Alemanha apreendeu 43 toneladas de cocaína em 2023, uma vez que nesse ano foram apreendidas no porto de Hamburgo grandes remessas, num total de 25 toneladas, o dobro da quantidade comunicada em 2022. As redes criminosas utilizam vários métodos para evitar a deteção. Entre elas contam-se técnicas sofisticadas de dissimulação, normalmente envolvendo carregamentos de mercadorias, que colocam desafios de processamento logístico às autoridades; seleção de portos de menores dimensões; transferência de remessas de navio para navio no mar ou deixando-as a flutuar na água para serem recolhidas.
O Roteiro da UE contra o tráfico de droga de 2023 descreve medidas para melhorar a gestão dos riscos aduaneiros e a deteção de drogas e precursores. Entre estas incluem-se o reforço da interoperabilidade dos sistemas de informação aduaneira entre os Estados-Membros da UE e o apoio à implantação de equipamento avançado de leitura de contentores. O Roteiro apoia igualmente a Aliança Europeia dos Portos, uma parceria público-privada concebida para aumentar a resiliência dos principais centros logísticos contra o tráfico de droga e a infiltração de redes criminosas.
À medida que a produção e o tráfico de drogas evoluem, a luta contra os riscos para a saúde e a segurança criados pelas atividades das redes criminosas e pelo funcionamento do mercado de drogas continua a ser um desafio. Tanto a criminalidade organizada como o tráfico de droga estão entre os principais temas abordados na próxima avaliação externa da estratégia e do plano de ação da UE em matéria de droga 2021-25. Desenvolvido com base nas observações das Avaliações da Ameaça da Criminalidade Grave e Organizada anuais da Europol, o recentemente lançado ProtectEU – Uma Estratégia Europeia de Segurança Interna, aborda o panorama em evolução das ameaças, incluindo um foco na luta contra a criminalidade organizada e o tráfico de droga.
As plataformas em linha são utilizadas para facilitar o tráfico e a distribuição de droga

Atualmente, são utilizadas inúmeras plataformas em linha, nacionais e mundiais, para organizar o tráfico de droga, que atraem tanto os fornecedores como os compradores devido ao seu carácter imediato e ao seu potencial de anonimato. A nível do comércio retalhista, os sítios Web «de superfície», incluindo plataformas de comércio eletrónico legítimas e sítios de redes sociais, são utilizados para vender novas substâncias psicoativas, medicamentos produzidos ilegalmente, medicamentos falsificados e, em menor medida, drogas ilícitas tradicionais. Os sítios Web de superfície também são utilizados para vender precursores de drogas e outros produtos químicos utilizados na produção de drogas. As informações atuais sugerem que a distribuição de droga a nível retalhista é cada vez mais facilitada através de plataformas e aplicações de redes sociais, variando em abertura entre perfis públicos e conteúdos privados e fóruns para utilizadores pré-selecionados. As vendas a retalho são também facilitadas por sítios Web da darknet, que proporcionam o anonimato através da encriptação e de pagamentos digitais em criptomoeda, visando clientes a nível mundial, mas por vezes em países ou grupos linguísticos específicos.
Os estudos indicam que os compradores e os vendedores consideram as redes sociais mais atrativas do que as Internets obscuras (darknets), na medida em que facilitam as transações rápidas e convenientes, quer sejam efetuadas pessoalmente, através de pagamentos em linha, entrega direta ou utilização de pontos de recolha. As redes criminosas também utilizam as redes sociais para recrutar e explorar adolescentes para operarem como facilitadores de baixo nível em vários aspetos do comércio de droga, incluindo a venda a retalho, o tráfico transfronteiriço e a intimidação e violência direcionadas.
A atratividade das Internets obscuras foi reduzida pelo seu curto período de vida operacional, pelos golpes de saída (exit scams) e pelos encerramentos conduzidos pelas autoridades policiais. De um modo mais geral, os serviços responsáveis pela aplicação da lei perturbam as infraestruturas criminosas digitais, infiltrando-se nas redes de comunicação encriptadas utilizadas pelos traficantes.
A intimidação e a violência continuam a ser uma marca distintiva do mercado de droga europeu

Para além de tornar as substâncias ilícitas amplamente disponíveis na Europa, a produção, o tráfico e a distribuição ilegais de drogas geram intimidação e violência, pondo em causa a segurança da Europa. Os lucros potenciais da venda de drogas ilícitas atraem as redes criminosas, dando origem a uma intensa concorrência pelo controlo das fontes, das rotas e dos mercados, o que pode resultar em violência. Têm vindo a aumentar as preocupações não só com a corrupção do pessoal nas cadeias de abastecimento logístico ou com as tentativas de desestabilização das instituições através de infiltrações, mas também com os homicídios e a exploração de jovens recrutados por redes criminosas para diversas vertentes do comércio ilícito de drogas.
São visados jovens vulneráveis, pessoalmente e em linha, que são recrutados para trabalhar como mensageiros de drogas e, em alguns casos extremos, para participar na violência e nos homicídios relacionados com drogas. As pessoas podem tornar-se vítimas de intimidação e violência relacionadas com a droga a vários níveis, com pessoas e famílias a serem visadas para a angariação de dívidas relacionadas com a droga. Com a intensificação dos esforços de aplicação da lei nos principais centros de transporte, as redes criminosas exploram múltiplos modi operandi para transportar remessas de droga, surgindo a possibilidade de se manifestarem intimidação e violência em novos locais em que a droga é produzida, armazenada, transitada ou vendida.
A EUDA lançou um novo projeto para compreender melhor a natureza da violência relacionada com o mercado da droga na Europa, a fim de fornecer aos decisores as melhores informações disponíveis sobre a forma de abordar esta questão. No âmbito deste esforço, e em colaboração com a Comissão Europeia, a EUDA organizou a primeira conferência europeia sobre a violência relacionada com a droga, que teve lugar em Bruxelas, em novembro de 2024. A conferência abordou os diferentes aspetos da violência relacionada com a droga, equilibrando as preocupações de saúde e de segurança e promovendo a segurança da comunidade e a saúde pública. Este evento salientou a necessidade de melhorar o acompanhamento e a recolha de dados a nível europeu e de criar um fórum regular para o intercâmbio de ideias e boas práticas para apoiar a elaboração de políticas baseadas em dados concretos neste domínio (ver também a análise aprofundada sobre os mercados de droga da UE realizada pela Europol e pela EUDA e a avaliação da ameaça da criminalidade organizada grave da Europol).
Responder a padrões complexos de policonsumo de substâncias continua a ser um desafio

O policonsumo de substâncias está associado a riscos mais elevados de problemas de saúde e sociais. Este termo refere-se ao consumo de duas ou mais substâncias psicoativas, lícitas ou ilícitas, simultânea ou sequencialmente. Os dados de uma série de indicadores, incluindo o inquérito europeu em linha sobre drogas de 2024 e a análise de resíduos de seringas efetuada pela rede ESCAPE, sugerem que o policonsumo de substâncias é generalizado entre as pessoas que consomem drogas. Vários fatores podem estar a alimentar o aumento dos relatos de policonsumo de substâncias, incluindo a crescente integração dos mercados de novas substâncias psicoativas e drogas ilícitas. Exemplos disto são o cânhamo misturado com canabinoides semissintéticos, estimulantes misturados com catinonas sintéticas e cetamina, ou novos opióides sintéticos misturados com heroína ou benzodiazepinas ou vendidos erradamente como tal.
Quer seja intencional ou não, o consumo de drogas em combinação, incluindo com o álcool, aumenta os riscos e complica a realização de intervenções, incluindo a resposta a uma intoxicação aguda. A complexidade dos padrões de consumo de drogas reflete-se no facto de a maioria das overdoses fatais envolver o consumo de mais do que uma substância, com os opiáceos a estarem geralmente envolvidos em combinação com outras drogas. O álcool e as benzodiazepinas estão presentes numa proporção significativa dos casos de overdose fatal. Tendo em conta os desafios crescentes relacionados com o policonsumo de substâncias, a EUDA está a trabalhar no sentido de melhorar a recolha de dados e a monitorização do policonsumo de substâncias para melhor apoiar as políticas e as boas práticas neste domínio.
O mercado europeu da canábis continua a evoluir
A diversidade e a potência dos produtos de canábis estão a aumentar

Estima-se que cerca de 1,5 % dos adultos na União Europeia (4,3 milhões de pessoas) sejam consumidores diários ou quase diários de canábis, sendo essas pessoas as mais suscetíveis de terem problemas devido ao consumo de canábis. A potência da resina de canábis apreendida continua a ser muito elevada em termos históricos, com a amostra média a conter atualmente 23 % de THC, enquanto a potência média da erva permanece nos 11 % de THC. Embora a resina e a erva continuem a ser os produtos de canábis dominantes, os consumidores têm atualmente à disposição uma gama crescente de produtos à base de canábis, incluindo produtos de elevada potência que têm sido associados a apresentações de toxicidade aguda nos serviços de urgência dos hospitais. A questão complica-se pelo facto de alguns produtos vendidos no mercado ilícito como canábis poderem ser adulterados com canabinoides sintéticos potentes, enquanto também surgiram recentemente nos mercados comerciais de alguns países europeus vários canabinoides semissintéticos, como o hexa-hidrocanabinol (HHC). Com implicações em termos de risco para a saúde dos consumidores, esta diversidade de produtos exige mais investigação e atenção regulamentar.
A avaliação do impacto das mudanças nas políticas relativas à canábis continua a ser fundamental

A abordagem política europeia em relação à canábis está também a ficar mais diversificada, à medida que alguns Estados-Membros da UE estão a considerar ou a alterar a sua abordagem política em relação ao consumo recreativo de canábis por adultos, criando um acesso legal à resina de canábis e aos produtos à base de erva. Em dezembro de 2021, Malta legislou sobre o cultivo doméstico limitado, a posse de pequenas quantidades e o consumo de canábis em privado, juntamente com clubes de cultivo comunitários sem fins lucrativos. Em julho de 2023, o Luxemburgo legislou no sentido de permitir o cultivo doméstico limitado e a utilização em privado e, em fevereiro de 2024, a Alemanha legislou no sentido de permitir o cultivo doméstico limitado, a posse e a utilização de pequenas quantidades e clubes de cultivo de canábis sem fins lucrativos.
Os Países Baixos também estão a rever a sua abordagem, mas o cultivo, a venda e a posse de canábis continuam a ser infrações penais. No entanto, a venda de pequenas quantidades de canábis, até 5 gramas, a pessoas com mais de 18 anos em coffeeshops que cumprem determinados critérios é tolerada há décadas. Como a canábis continua a ser fornecida pelo mercado ilícito, os grupos criminosos beneficiam deste comércio. Para resolver este problema, os Países Baixos estão a experimentar uma cadeia de abastecimento de canábis fechada em 10 municípios, com a canábis produzida em instalações regulamentadas e disponível para venda em coffeeshops de canábis.
Não é clara a direção que as futuras políticas europeias irão tomar. Porém, o que é evidente é que o desenvolvimento de políticas neste domínio deverá ser acompanhado de uma avaliação do impacto das alterações introduzidas. Este tipo de avaliação exige bons dados de base, o que sublinha a necessidade de melhorar o nosso acompanhamento dos atuais padrões de consumo da droga ilícita mais consumida na Europa.
A maior disponibilidade de canabinoides semissintéticos com riscos desconhecidos para a saúde

Na sequência da introdução de controlos legais sobre a produção de canabinoides sintéticos na China em 2021, o fornecimento destas drogas à Europa foi interrompido, com alguma produção a ser posteriormente transferida para a Europa. Os sinais da presença do fabrico de canabinoides sintéticos na Europa incluem a apreensão de um pequeno número de laboratórios ilícitos e a importação de substâncias químicas precursoras para a sua produção em 2023. Apesar dos indícios de redução significativa da disponibilidade de canabinoides sintéticos em 2024, estes continuam a ser uma preocupação de saúde pública entre algumas populações vulneráveis, incluindo os reclusos.
Os canabinoides semissintéticos, que surgiram pela primeira vez no mercado europeu em 2022, propagaram-se rapidamente. Embora o HHC (hexa-hidrocanabinol) tenha sido o primeiro canabinoide semissintético a aparecer, foram depois detetadas mais de vinte destas substâncias, normalmente comercializadas como alternativas legais à canábis. Embora os canabinoides semissintéticos tenham sido inicialmente importados dos Estados Unidos, observa-se atualmente uma produção europeia. Os canabinoides semissintéticos estão amplamente disponíveis através da Internet e, em alguns países, em locais físicos de venda a retalho. Os principais produtos são produtos comestíveis aromatizados, tais como geleias e vapes, bem como canábis com baixo teor de THC que foi pulverizada ou misturada com os canabinoides. A sua acessibilidade e o seu suposto estatuto legal podem atrair tanto os consumidores de canábis como os que a consomem pela primeira vez, incluindo potencialmente jovens e crianças. Os canabinoides semissintéticos específicos presentes — de diferentes potências — e as suas concentrações podem diferir significativamente entre produtos e lotes.
Continuam a ser pouco estudados os efeitos dos canabinoides semissintéticos sobre o ser humano. Os relatórios sugerem que as substâncias têm efeitos semelhantes aos da canábis, com riscos de reações adversas que vão desde uma intoxicação ligeira a uma intoxicação grave. Dada a semelhança farmacológica entre os canabinoides semissintéticos e a canábis, é necessário esclarecer o seu potencial para desencadear episódios psicóticos e os riscos que colocam em matéria de dependência. De um modo geral, esta variabilidade e esta imprevisibilidade representam um potencial risco de intoxicação para os consumidores.
Preocupação crescente com a disponibilidade de cocaína e cetamina
A produção e o tráfico incessantes alimentam uma disponibilidade de cocaína sem precedentes

Em 2023, pelo sétimo ano consecutivo, os Estados-Membros da UE comunicaram uma quantidade recorde de cocaína apreendida, que ascendeu a 419 toneladas. O tráfico de cocaína através dos portos marítimos europeus em contentores de transporte comercial intermodal impulsiona a elevada disponibilidade desta droga. Dado que as medidas de interdição aumentaram nos principais pontos de entrada de cocaína, os traficantes estão também a visar portos mais pequenos noutros Estados-Membros da UE e em países vizinhos, que podem ser mais vulneráveis ao tráfico de droga. Esta mudança nas rotas do tráfico de droga pode ser acompanhada de intimidação e violência relacionadas com a droga. Para além da exploração de contentores de transporte comercial, os traficantes utilizam uma série de outras formas de transporte e serviços de entrega, combinadas com métodos inovadores de dissimulação, para introduzir a cocaína na Europa.
Continua a ter lugar na União Europeia o processamento ilícito de produtos de cocaína, sendo todos os anos desmantelados vários laboratórios de cocaína. O processamento de cocaína na Europa envolve frequentemente a extração secundária de cocaína incorporada noutros materiais (por exemplo, quimicamente ocultada em plásticos), o que cria desafios à sua deteção nas remessas comerciais. A base e a pasta de cocaína são traficadas em grandes quantidades para a Europa para serem transformadas em cloridrato de cocaína. Todos os anos, são detetadas algumas instalações de transformação de cocaína em grande escala. De um modo geral, o tráfico de cocaína para a Europa e a produção desta droga na União Europeia representam um desafio dinâmico e de utilização intensiva de recursos para as autoridades policiais e aduaneiras.
Crescimento dos danos sociais e para a saúde causados pela cocaína e pelo crack

A cocaína continua a ser, a seguir à canábis, a segunda droga ilícita mais consumida na Europa, com 2,7 milhões de jovens adultos (2,7 % das pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 34 anos) a declararem tê-la consumido no último ano. A disponibilidade crescente da droga e uma distribuição geográfica e social mais ampla são evidenciadas pelos resíduos de cocaína detetados nas águas residuais municipais, que aumentaram na maioria das cidades com dados relativos a 2023 e 2022. Os serviços europeus de controlo de drogas, embora não sejam representativos a nível nacional, comunicaram que a cocaína foi a segunda substância mais comum que rastrearam no primeiro semestre de 2024. A cocaína é a segunda droga ilícita mais frequentemente comunicada pelas pessoas que começam pela primeira vez um tratamento especializado de toxicodependência, sendo agora a substância mais frequentemente notificada em casos de intoxicações agudas relacionadas com drogas nos serviços de urgência dos hospitais sentinela.
O consumo de cocaína pode resultar em padrões de consumo dependentes e compulsivos, estando associado a uma série de consequências adversas para a saúde, que são exacerbadas pelo policonsumo de substâncias, seja com álcool ou outras drogas ilícitas. O consumo combinado de cocaína e álcool é comum, e a presença das duas substâncias no organismo cria cocaetileno no fígado, que está associado a maiores riscos para a saúde. O consumo de cocaína pode induzir ou precipitar estados psicóticos, como a psicose induzida por estimulantes. A gestão da comorbilidade psiquiátrica entre as pessoas com problemas relacionados com o consumo de drogas continua a ser um desafio, uma vez que as respostas integradas dos serviços de tratamento e de saúde mental são muitas vezes insuficientes. Os dados disponíveis sugerem que a cocaína, geralmente na presença de opiáceos, esteve envolvida em cerca de um quarto das mortes por overdose de drogas em 2023. Uma vez que o consumo de cocaína pode agravar os problemas cardiovasculares subjacentes, é provável que a sua contribuição para a mortalidade na Europa seja subestimada.
O consumo de cocaína e, em particular, o consumo de craque, parece estar a tornar-se mais comum, especialmente entre algumas comunidades marginalizadas. A cocaína fumada e injetada está associada a problemas de saúde mais graves e, por conseguinte, é preocupante que a injeção de cocaína e o consumo de craque sejam comunicados por mais países. O número de utentes que iniciaram o tratamento pela primeira vez por problemas relacionados com a cocaína aumentou 31 % entre 2018 e 2023, enquanto o número de utentes que iniciaram o tratamento pela primeira vez por consumo de cocaína-crack aumentou 35 %. Em 2023, as salas de consumo de droga em 10 cidades de 8 países da UE comunicaram o consumo de craque por clientes, isoladamente ou com heroína. Para responder às necessidades das pessoas que fumam craque, muitas vezes em simultâneo com o consumo de opiáceos, os serviços de redução de danos podem ter de adaptar os seus serviços para apoiar práticas de consumo mais seguras. Isto pode implicar o fornecimento de kits, incluindo, por exemplo, tubos e filtros.
Aumento do risco de efeitos nocivos decorrentes de uma maior disponibilidade de cetamina

Embora a cetamina não seja amplamente consumida na Europa e seja difícil de monitorizar por várias razões, incluindo o seu estatuto jurídico variável nos países da UE, os dados atuais sugerem que está mais disponível e os danos para a saúde conexos são mais evidentes. Entre os inquiridos no inquérito europeu em linha sobre o consumo de drogas, em 2024, 14 % dos que tinham consumido drogas nos últimos 12 meses referiram ter consumido cetamina, principalmente no contexto do policonsumo de substâncias com outras drogas e álcool. Em 2024, 82 cidades de 22 países da UE e da Noruega comunicaram níveis relativamente baixos de resíduos de cetamina nas águas residuais municipais.
A cetamina não é produzida em grande escala na Europa, mas, em 2023, foram desmantelados seis laboratórios implicados na cristalização de cetamina em pó a granel. São traficadas para a União Europeia grandes quantidades de cetamina, sobretudo provenientes da Índia; estes números aumentaram recentemente, tendo sido comunicadas ao Sistema de Alerta Rápido da UE apreensões de pó de cetamina num total de 2,7 toneladas em 2023. É provável que a cetamina esteja sistematicamente disponível nos mercados de droga, podendo ter-se tornado uma droga de eleição em alguns contextos.
Em 2023, os serviços de urgência dos hospitais sentinela da Euro-DEN na Europa indicaram que a cocaína foi a substância mais frequentemente notificada em combinação com a cetamina em apresentações de toxicidade aguda. A cetamina tem sido associada a vários efeitos nocivos agudos e crónicos em função da dose, incluindo toxicidade neurológica e cardiovascular, problemas de saúde mental, como a depressão, e complicações urológicas, tais como lesões na bexiga resultantes da utilização intensiva ou da presença de adulterantes. O número de utentes que indicaram receber tratamento devido a problemas relacionados com o consumo de cetamina continua a ser baixo, mas mais do que duplicou entre 2022 e 2023, atingindo um número estimado de 1329.
O tratamento dos problemas de consumo de estimulantes continua a ser complexo

A nossa compreensão do que constitui um tratamento eficaz para os problemas relacionados com os estimulantes está a aumentar, mas continua a ser relativamente limitada. É necessário um maior investimento para garantir que as intervenções e os serviços sejam adequados às necessidades crescentes observadas neste domínio em alguns países. Apesar de algum investimento na investigação, não existem, hoje, tratamentos farmacológicos eficazes para o consumo problemático de estimulantes aprovados pelas agências reguladoras. As intervenções psicossociais podem ser eficazes, em especial para as pessoas que consomem cocaína (ver Estimulantes: guia de respostas sanitárias e sociais). No entanto, abordagens como a gestão de contingências podem enfrentar desafios de aplicação no âmbito dos sistemas de saúde europeus.
É provável que as pessoas que injetam estimulantes necessitem de um maior acesso à oferta de agulhas e seringas, uma vez que podem injetar mais frequentemente do que as pessoas que consomem opiáceos. As respostas para este grupo incluem frequentemente alguma forma de sensibilização e o fornecimento de equipamento de injeção esterilizado, preservativos, informação sobre injeção mais segura e higiene básica, cuidados com as veias e feridas, e cremes e pomadas antibacterianos (ver a publicação da EUDA de 2025 sobre o equipamento de redução de danos). Estas parecem ser respostas adequadas, mas ainda não existe nenhuma base de dados sólida neste domínio. Os serviços de controlo de drogas também desempenham um papel na resposta aos danos relacionados com os estimulantes em alguns Estados-Membros da UE, fornecendo informações sobre os riscos associados a estimulantes de elevada pureza ou adulterados.
Tendo em conta a ligação entre o consumo de estimulantes e o comportamento sexual de risco, foram desenvolvidas iniciativas especificamente destinadas às pessoas que consomem estimulantes, incluindo metanfetamina e cocaína, no contexto do sexo químico. Estes incluem serviços multidisciplinares que prestam serviços de combate à droga e de saúde sexual, bem como esforços para melhorar a ligação entre serviços (ver Destaque para... Abordar as questões de saúde sexual associadas ao consumo de drogas).
Dado que parecem estar a aumentar os problemas relacionados com os estimulantes, esta é uma área que necessita de mais investigação e desenvolvimento de serviços. A EUDA, o UNODC e a OMS estão a desenvolver uma iniciativa conjunta denominada Scale-up para apoiar o tratamento dos problemas relacionados com os estimulantes.
A diversidade dos estimulantes sintéticos constitui um desafio crescente
Sinais de aumento da produção de drogas sintéticas na Europa

A intensificação da produção de drogas sintéticas na Europa é evidenciada pela deteção de instalações de elevado rendimento em alguns países e pelo aumento das apreensões de precursores essenciais necessários para o fabrico destas substâncias. Alguns laboratórios podem também ser utilizados para produzir várias substâncias, como, por exemplo, os estimulantes sintéticos que têm requisitos semelhantes para os produtos químicos e o equipamento de fabrico.
As apreensões de precursores químicos mudaram e aumentaram em resposta aos controlos legais e regulamentares sobre os produtos químicos comuns utilizados para a produção de drogas ilícitas. Na década até ao final de 2022, foram apreendidas anualmente, em média, 54 toneladas de precursores químicos, tanto inventariados como não inventariados, mas este valor atingiu um nível sem precedentes de 178 toneladas em 2023. O aumento deveu-se principalmente a grandes apreensões de precursores alternativos para o fabrico de anfetaminas, metanfetaminas e MDMA nos Países Baixos e na Hungria. Nos últimos anos, registou-se um aumento das apreensões de precursores para o fabrico de catinonas sintéticas e de instalações para a sua produção, sobretudo na Polónia. A produção, por redes criminosas, de precursores essenciais a partir de substâncias químicas alternativas, como os derivados glicídicos de BMK e PMK, para o fabrico de anfetaminas e MDMA, representa um desafio em evolução para as alfândegas e as autoridades policiais. Tanto o ambiente como as comunidades locais ficam em risco devido à utilização de produtos químicos perigosos necessários para a produção de drogas ou à inversão da ocultação química das drogas traficadas, uma vez que os subprodutos são frequentemente eliminados de forma ilegal e perigosa.
A produção europeia de MDMA está a aumentar, ao passo que os produtos de potência elevada representam riscos para a saúde

A MDMA é produzida na Europa, principalmente nos Países Baixos e na Bélgica, para consumo interno e exportação para outros mercados. Os relatórios sobre o aumento das apreensões de precursores de MDMA, combinados com informações sobre as exportações de MDMA para fora da União Europeia, podem refletir um aumento da produção da droga para os mercados mundiais e uma recuperação geral após o declínio relacionado com a pandemia de COVID-19. Também é preocupante a possível utilização de uma rota inversa de tráfico de cocaína, da Europa para a América Latina, para trocar MDMA por cocaína.
Dado que o teor e a pureza dos lotes de comprimidos e pós de MDMA a nível retalhista variam, os consumidores da droga estão expostos a riscos de saúde variáveis e imprevisíveis. Além disso, o teor de MDMA dos comprimidos de ecstasy aumentou acentuadamente, passando de uma média de cerca de 84 miligramas em 2011 para 138 a 158 miligramas, com alguns comprimidos a conterem até 350 miligramas de MDMA. Os produtos de potência mais elevada podem aumentar o risco de efeitos adversos para a saúde, incluindo a morte. Estes riscos para a saúde também podem ser exacerbados pelo policonsumo de substâncias, que, segundo dados de diferentes fontes, é comum entre as pessoas que consomem MDMA.
As catinonas sintéticas estão cada vez mais integradas no mercado de drogas europeu

Os dados atuais sugerem que as catinonas sintéticas, uma vasta família de estimulantes, estão continuamente disponíveis no mercado de drogas em alguns países e podem ser intencionalmente compradas como estimulantes de escolha a preços acessíveis. Os dados dos serviços de controlo de drogas indicam que é mais provável que as catinonas sintéticas sejam adquiridas intencionalmente do que antes. No entanto, a exposição a substâncias inesperadas foi evidente nas amostras apresentadas, vendidas como 3-MMC, que frequentemente continham 2-MMC. No inquérito europeu em linha sobre drogas de 2024, 9 % dos inquiridos tinham consumido catinonas sintéticas nos últimos 12 meses. Embora alguns indicadores possam sugerir que o mercado destas drogas pareça estar a crescer, a monitorização de um vasto grupo de compostos constitui um desafio para instrumentos originalmente concebidos para acompanhar drogas ilícitas há muito estabelecidas, como a cocaína. A EUDA realizou recentemente avaliações de risco de três novas catinonas sintéticas, a 2-metilmetcatinona (2-MMC), a 4-bromometcatinona (4-BMC) e a N-etilnorpentedrona (NEP) (ver avaliações de risco da EUDA).
Foi demonstrado que algumas catinonas sintéticas, como a 4-CMC, têm efeitos e potenciais danos amplamente semelhantes a outros psicoestimulantes, como a MDMA e a anfetamina. No entanto, as catinonas sintéticas são um grupo alargado de drogas que contêm substâncias com efeitos diferentes ou riscos para a saúde que podem ser mais graves devido à sua maior potência, como os derivados de pirrolidina, que incluem a alfa-PHiP (α-pirrolidinoisohexanofenona). Os efeitos de muitas destas drogas nos seres humanos não foram objeto de aturada investigação.
Em 2023, as importações e apreensões de catinonas sintéticas ascenderam a 37 toneladas, em comparação com 27 toneladas em 2022 e 4,5 toneladas em 2021. Na sua maioria, tratava-se de um pequeno número de remessas a granel importadas da Índia, principalmente através dos Países Baixos. Verificam-se também níveis significativos de produção de catinona sintética na Europa, onde se detetam números crescentes de instalações de produção de droga, incluindo instalações de grande escala, e estão a ser apreendidas maiores quantidades de produtos químicos precursores.
Risco de a produção e o tráfico de metanfetaminas na Europa alimentar o consumo da droga

Há alguns sinais de que o consumo de metanfetamina, que continua baixo na maioria dos países da UE, já está presente em mais países do que antes.
A produção e o tráfico de anfetaminas e metanfetaminas na Europa continuam, tanto para a procura interna como para a exportação para mercados fora da UE mais rentáveis. A benzilmetilcetona (BMK) é um produto químico precursor essencial para o fabrico de ambas as drogas. As redes criminosas escolhem outras substâncias que podem ser utilizadas para produzir BMK a fim de evitar a deteção, com as apreensões dessas substâncias a aumentarem na Europa. Continuam a ser detetadas instalações de produção em grande escala para produzir essas drogas na União Europeia. Estão a ser desmantelados locais de produção de várias drogas, capazes de passar de uma substância para outra, que são provavelmente cobiçados pelas redes criminosas para o fabrico de produtos com mais valor para a exportação, como os cristais de metanfetamina, bem como de produtos menos lucrativos para os consumidores locais, como a anfetamina e outros estimulantes sintéticos. Em 2023, mais do que quadruplicaram, atingindo 10,9 toneladas, as apreensões de ácido tartárico, um produto químico para a recuperação da forma mais potente e mais procurada de metanfetamina (d-metanfetamina, utilizada para o «crystal meth») a partir de misturas produzidas por métodos BMK.
Além disso, embora as quantidades de anfetamina e metanfetamina apreendidas se tenham mantido relativamente estáveis nos últimos anos, registaram-se ligeiros aumentos em 2023. Algumas grandes remessas de metanfetamina apreendidas podem indicar o transbordo da droga através da Europa para outros destinos. Tal pode refletir a atratividade, para os traficantes, do encaminhamento das remessas através de locais menos associados ao tráfico internacional de droga no seu percurso para o destino previsto.
A produção e o tráfico de metanfetamina na Europa criam o potencial de uma maior disponibilidade destas drogas nos mercados locais de estimulantes, que podem, por vezes, sofrer mudanças dinâmicas nos produtos disponíveis para os consumidores.
Preocupação crescente com os danos ambientais causados pela produção de drogas ilícitas
Desde as elevadas necessidades de água e energia do cultivo ilícito de canábis até à desflorestação associada ao cultivo de coca, a pegada ambiental da produção de droga é significativa. As alterações regulamentares relativas à canábis em alguns países facilitaram a investigação sobre os impactos ambientais da produção da droga, incluindo a sua pegada de carbono, a erosão do solo e os efeitos nas reservas de água.
Os danos ambientais estão fortemente relacionados com a produção de drogas sintéticas, em especial a deposição de resíduos químicos tóxicos, mas subsistem lacunas de conhecimento significativas.
O desmantelamento de laboratórios de drogas sintéticas em grande escala na União Europeia, juntamente com sinais de aumento da transformação e produção de cocaína e catinonas sintéticas, sublinha a urgência de colmatar estas lacunas de conhecimento. O impacto ambiental da produção de MDMA na Europa é significativo, uma vez que cada quilograma de MDMA gera aproximadamente 58 quilogramas de resíduos tóxicos. No total, a produção de MDMA na União Europeia poderá gerar entre 1000 e 3000 toneladas de resíduos químicos por ano. Os locais de produção são também propensos a acidentes, explosões e incêndios devido à volatilidade dos produtos químicos envolvidos, o que representa um risco significativo para as comunidades circundantes.
Pouco se sabe sobre as consequências ambientais do tráfico de droga, que pode envolver práticas destrutivas do ponto de vista ambiental, como o desflorestamento para a criação de faixas de aterragem clandestinas. Do mesmo modo, as rotas do tráfico de droga que atravessam zonas sensíveis do ponto de vista ambiental podem acelerar a destruição de habitats e a perda de biodiversidade. No contexto do tráfico marítimo, as embarcações utilizadas para o tráfico de droga podem ser deliberadamente afundadas ou abandonadas após as entregas ou durante as tentativas de interceções.
A EUDA está a apoiar os esforços para estimar a pegada de carbono do cultivo de canábis, analisar a contaminação das águas subterrâneas provocada pela eliminação de resíduos de drogas sintéticas e desenvolver um quadro para monitorizar os efeitos ambientais da produção de drogas ilícita. Estas iniciativas visam obter uma imagem mais clara da forma como a produção de droga afeta o ambiente natural e fundamentar respostas baseadas em dados concretos.
A complexa situação da heroína e dos opiáceos na Europa
O policonsumo de substâncias está associado à maior parte das mortes relacionadas com opiáceos

Compreender os fatores que afetam as tendências das mortes induzidas por drogas é fundamental para o desenvolvimento de respostas eficazes para prevenir e inverter as overdoses de drogas, mas as informações disponíveis continuam a ser limitadas. Uma vez que podem surgir rapidamente novas ameaças de drogas, a melhoria da atualidade e da exaustividade dos dados é fundamental para reforçar a preparação. Os dados disponíveis indicam que, em 2023, foram registadas cerca de 7500 mortes relacionadas com a droga na União Europeia, o que corresponde a uma taxa de mortalidade de 24,7 mortes por milhão de habitantes com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos.
De um modo geral, os opiáceos, normalmente em combinação com outras substâncias, continuam a ser as drogas mais frequentemente envolvidas em mortes induzidas pela droga. No entanto, a heroína já não é encontrada na maioria das mortes por overdose, exceto em alguns países, desempenhando agora outros opiáceos e outras drogas um papel importante. Nalguns países, uma parte substancial das mortes por overdose está associada a outros opiáceos que não a heroína, incluindo a metadona e, em menor grau, a buprenorfina, medicamentos para o alívio da dor que contêm opiáceos e outros opióides sintéticos. O álcool, juntamente com as benzodiazepinas, está presente numa proporção significativa das overdoses fatais que envolvem opiáceos. Os estimulantes como a cocaína também são referidos nos dados toxicológicos juntamente com os opiáceos.
De um modo geral, o consumo concomitante de diferentes classes de drogas continua a ser um fator importante, mas não suficientemente reconhecido, para compreender e responder à mortalidade induzida pela droga. A EUDA irá coordenar uma rede de laboratórios forenses e toxicológicos, aumentando a capacidade analítica disponível para monitorizar o impacto das diferentes drogas e combinações de drogas nas tendências de mortalidade.
A prevenção de overdoses e mortes por opiáceos exige a expansão dos serviços

Uma vez que os opiáceos continuam a estar envolvidos na maioria das mortes por overdose na União Europeia, as respostas eficazes dirigidas a estas drogas revestem-se de particular importância. As intervenções neste domínio podem ter por objetivo prevenir a ocorrência de overdoses ou evitar a morte quando estas ocorrem. Até 2023, 15 países europeus notificaram a implementação de programas de naloxona, incluindo projetos-piloto, para prevenir mortes por overdose. A alteração dos padrões de consumo e a disponibilidade de várias formulações de naloxona, tanto injetável como em spray nasal, podem agora exigir que os serviços revejam os atuais protocolos de administração e os atualizem de acordo com os medicamentos disponíveis. As overdoses que envolvem opióides sintéticos potentes podem necessitar, por exemplo, da administração de doses múltiplas de naloxona para reverter os efeitos dos opiáceos. No entanto, as diretrizes de 2024 para a resposta a overdoses confirmam que a gestão inicial da toxicidade aguda dos opiáceos continua a ser a mesma, independentemente de se tratar de heroína, de opiáceos sujeitos a receita médica ou de novos opióides sintéticos, como os derivados do fentanil ou os nitazenos. Continua a ser importante que sejam administradas doses tituladas de naloxona a pessoas que apresentem toxicidade aguda provocada por opiáceos. Este facto realça o valor da formação em primeiros socorros, incluindo na utilização de naloxona, das pessoas que possam responder ou testemunhar uma overdose.
Os opiáceos de nitazeno aumentam o risco de envenenamento

Os novos opióides sintéticos são altamente potentes, o que significa que uma pequena quantidade é suficiente para produzir muitas doses a nível retalhista e que podem representar riscos elevados de envenenamento potencialmente fatal. Os opiáceos de nitazeno entraram recentemente no mercado de drogas ilícitas na Europa, onde foram os únicos novos opiáceos notificados ao Sistema de Alerta Rápido da UE em 2023. A disponibilidade destas drogas está a aumentar, criando mais riscos para as pessoas que consomem opiáceos, que podem encontrá-los misturados com outras drogas, vendidos incorretamente ou em medicamentos falsificados. Em 2023, triplicou a quantidade de pós de nitazeno detetados na Europa.
Os relatórios ao Sistema de Alerta Rápido da UE indicam um recente aumento significativo da disponibilidade de medicamentos falsificados que contêm opiáceos de nitazeno na Europa, com pelo menos 8 países a confiscá-los em 2023. Estes produtos imitam normalmente os medicamentos de prescrição legítima, em particular a oxicodona e, em menor grau, as benzodiazepinas. As preocupações a este respeito incluem o potencial de propagação para além dos consumidores de opiáceos de alto risco a populações mais vastas sem tolerância aos opiáceos, incluindo os jovens.
Na Irlanda, em 2023, foram vendidos incorretamente nitazenos como sendo heroína e, em 2024, como sendo benzodiazepinas, o que resultou num consumo inadvertido e em múltiplas overdoses. Casos ou números significativos de mortes e toxicidade aguda relacionados aos nitazenos foram relatados em 2023 ou 2024 na Alemanha, França, Suécia e Noruega. Os dados comunicados pela Estónia e pela Letónia indicam que os nitazenos são responsáveis por uma percentagem significativa de mortes por overdose nestes países. Devido à sua elevada potência e novidade, receia-se que os opiáceos nitazeno possam não ser detetados sistematicamente nos procedimentos normalmente utilizados na toxicologia post mortem, resultando numa subestimação do seu envolvimento.
A China alargou o controlo dos opiáceos de nitazeno em 2024 para abranger atualmente 10 substâncias. Este facto pode redirecionar o mercado dos compostos dominantes, como o metonitazeno e o protonitazeno, para novos derivados ou famílias alternativas de opiáceos. Por exemplo, desde meados de 2024, registou-se um pequeno mas significativo aumento nas deteções de substâncias pertencentes à família das «orfinas» de benzimidazole, com cinco países da UE a comunicarem ciclorfina e dois a detetarem spiroclorfina. Embora não existam dados farmacológicos disponíveis para estas substâncias, a sua semelhança estrutural com a brorfina, um opiáceo potente, sugere que um dos principais riscos para a saúde é provavelmente a depressão respiratória.
O potencial impacto das mudanças na produção e no tráfico de heroína ainda não é claro, mas a preparação é fundamental

A proibição das drogas, incluindo o cultivo da papoila do ópio, introduzida pelos talibãs em abril de 2022, reduziu consideravelmente a produção de ópio e heroína no Afeganistão, a principal fonte da droga na Europa. Se continuar, é provável que uma diminuição da produção de ópio e heroína no Afeganistão afete a disponibilidade de heroína na Europa, embora seja difícil prever quando tal poderá acontecer e como tal poderá ser sentido em diferentes Estados-Membros da UE. Na Europa, vários indicadores sugerem que o mercado da heroína tem vindo a diminuir nos últimos 10 anos. Apesar das grandes flutuações nas quantidades apreendidas, as tendências a longo prazo em termos de preço e pureza e no número de apreensões sugerem que a oferta pode ter aumentado em relação à procura ao longo do período. Para além das restrições de oferta, a resiliência e a adaptação do mercado continuam a ser considerações fundamentais para uma melhor compreensão dos sinais de mudança no mercado europeu de heroína. Por exemplo, os relatórios indicam que as reservas de ópio no Afeganistão podem ter contribuído para amortecer o impacto imediato da proibição (ver recente publicação da EUDA sobre o Afeganistão). Em conjunto, o elevado valor do mercado europeu de heroína pode tornar os fornecimentos à Europa um pouco resilientes a curto a médio prazo. Acresce que as redes de tráfico, altamente adaptáveis, podem estar a mudar as rotas em resultado da invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia e dos conflitos no Médio Oriente. Seria, no entanto, difícil substituir totalmente a heroína proveniente do Afeganistão por fornecimentos provenientes de outros países produtores, como Mianmar, dada a quantidade de ópio e heroína produzida e traficada a partir do Afeganistão antes da atual proibição.
Perante a incerteza, a Europa precisa de melhorar o seu grau de preparação para enfrentar os potenciais desafios decorrentes de uma tal mudança de mercado. Embora o aumento do policonsumo de substâncias e a mudança de substâncias, quer para outros opiáceos quer para estimulantes, entre as pessoas que consomem opiáceos sejam resultados prováveis da eventual redução da disponibilidade de heroína, um meio fundamental para evitar este cenário será alargar o acesso rápido ao tratamento com agonistas opiáceos e aos apoios conexos, bem como aos programas de agulhas e seringas. É igualmente importante proporcionar um acesso suficiente à naloxona para evitar mortes por overdose. A monitorização das drogas disponíveis a nível retalhista nos mercados locais de droga continua a ser importante para identificar rapidamente as mudanças nas substâncias para venda e a presença de lotes perigosos de drogas. O Sistema de Alerta Rápido da UE continuará a desempenhar um papel fundamental neste domínio, tal como o novo sistema de avaliação de ameaças da EUDA.
Responder à evolução dos problemas da droga na Europa
Consumo de substâncias entre a população escolar

A monitorização do consumo de substâncias entre os adolescentes continua a ser fundamental para o desenvolvimento de futuras políticas eficazes em matéria de droga. O Projeto Europeu de Inquéritos Escolares sobre o Álcool e outras Drogas (ESPAD) fornece informações sobre os comportamentos de risco dos adolescentes em toda a Europa. A última edição do inquérito, realizada em 2024 em 37 países europeus, revela que, apesar das diminuições a longo prazo do consumo de substâncias entre os adolescentes, as tendências emergentes suscitam novas preocupações.
A canábis continua a ser a droga ilícita mais comummente utilizada, embora a prevalência ao longo da vida tenha diminuído para o seu nível mais baixo desde 1995. Embora, de um modo geral, os rapazes registem uma maior utilização, as disparidades de género estão a diminuir, com algumas exceções onde as raparigas ultrapassam os rapazes. A iniciação precoce e o consumo de alto risco continuam a ser motivo de preocupação, embora o consumo atual global (estabelecido nos últimos 30 dias) entre os alunos da UE tenha diminuído para 5 %, refletindo uma tendência decrescente a longo prazo.
O consumo de outras drogas ilícitas diminuiu entre os alunos do ESPAD, com uma redução das disparidades entre géneros, embora os rapazes continuem, de um modo geral, a indicar um consumo mais elevado. Entretanto, o consumo de inalantes está a aumentar entre as raparigas, enquanto o consumo de medicamentos não medicinais também está a aumentar.
O consumo de cigarros diminuiu acentuadamente nas últimas décadas, tendo a prevalência ao longo da vida diminuído para metade entre 1995 e 2024. A iniciação precoce persiste, no entanto, sobretudo entre as raparigas, cujas taxas de consumo diário de tabaco aos 13 anos de idade ou menos aumentaram recentemente. Entretanto, o consumo de cigarros eletrónicos aumentou acentuadamente entre os adolescentes, com taxas crescentes de iniciação precoce e consumo diário, suscitando preocupações sobre a dupla utilização de cigarros tradicionais e eletrónicos como reflexo de uma mudança mais ampla para produtos de nicotina alternativos.
O consumo de álcool também diminuiu ao longo do tempo, com a diminuição do consumo global e a ingestão compulsiva de álcool. No entanto, esta redução é mais pronunciada entre os rapazes, com as raparigas a apresentarem uma tendência mais estável. Apesar dos progressos registados, o álcool continua a estar amplamente acessível e a iniciação precoce e o consumo episódico excessivo de álcool permanecem preocupantes.
Em termos de bem-estar mental, em média, 59 % dos alunos afirmam ter um bom bem-estar mental. As conclusões destacam diferenças regionais significativas, bem como disparidades de género, com as raparigas a assinalar sistematicamente um nível de bem-estar inferior ao dos rapazes. As pontuações mais baixas em matéria de bem-estar são registadas em países que enfrentam conflitos e instabilidade.
Os esforços de prevenção são generalizados, tendo a maioria dos estudantes participado em pelo menos uma intervenção. O álcool é o tema mais frequentemente abordado, ao passo que as substâncias ilícitas e os riscos comportamentais recebem menos atenção. Os programas de prevenção baseados em competências, que enfatizam as abordagens interativas, são mais comuns na Europa Ocidental e do Sul.
O conjunto destas conclusões reflete a natureza em mudança do consumo de substâncias entre os adolescentes e as áreas em que as respostas existentes devem ser consideradas na avaliação.
Implementar a prevenção do consumo de substâncias baseada em provas: a atenção a nível local é importante
A prevenção do consumo de substâncias visa evitar ou adiar o consumo de drogas psicoativas. Pode também ajudar as pessoas que tenham começado a consumir substâncias a evitar o desenvolvimento de perturbações relacionadas com o consumo de drogas. No entanto, nem todas as abordagens utilizadas neste domínio são eficazes, tendo aumentado o interesse na identificação e aplicação de intervenções de prevenção baseadas em provas. Na Europa, as decisões políticas estratégicas em matéria de prevenção podem frequentemente ser tomadas a nível nacional ou regional, ao passo que as decisões de financiamento de programas de prevenção podem ser tomadas a nível local. A aplicação de opções baseadas em provas é um desafio nos casos em que as pessoas envolvidas não dispõem de formação suficiente em matéria de prevenção, mas, ainda assim, têm de tomar decisões operacionais sobre as intervenções. Uma das consequências desta situação é o facto de a importância das políticas locais de prevenção ambiental não ser, muitas vezes, devidamente considerada. As intervenções ambientais são concebidas para alterar o contexto em que as pessoas tomam decisões e apoiar escolhas mais saudáveis. Isto é conseguido através da utilização de medidas regulamentares, económicas e físicas que afetam fortemente os comportamentos de risco e o bem-estar. As mudanças são sustentadas pela alteração do contexto social, como as crenças, as normas e os comportamentos aceitáveis.
A EUDA implementa o Currículo de Prevenção da União Europeia (EUPC) para formar as partes interessadas no domínio da prevenção a nível local e apoiar a seleção e a execução de políticas e programas de prevenção eficazes. Este trabalho é apoiado pelo registo de prevenção da EUDA, Xchange, um catálogo europeu em linha de intervenções de prevenção avaliadas, e pelo desenvolvimento do conjunto de ferramentas das normas europeias de qualidade em matéria de prevenção da toxicodependência. O EUPC abrange todas as substâncias psicoativas, abordando os determinantes comportamentais subjacentes ao consumo de substâncias e outros comportamentos nocivos que partilham estes fatores de risco e de proteção, como a violência juvenil, a criminalidade, a intimidação e os comportamentos sexuais de risco.
O policonsumo de substâncias e a diversidade de drogas injetadas criam desafios em matéria de redução dos danos

Embora o consumo de drogas injetáveis continue a diminuir na Europa, este comportamento continua a ser responsável por um nível desproporcionado de danos agudos e crónicos para a saúde associados ao consumo de drogas ilícitas. Com base em dados recentes, estima-se que mais de meio milhão de pessoas injetaram drogas no ano passado. Os dados da análise de resíduos de seringas da rede ESCAPE de 2023 mostram que, nas cidades europeias, são injetadas várias substâncias, incluindo opiáceos, estimulantes, medicamentos e novas substâncias psicoativas. Metade das seringas analisadas continha resíduos de duas ou mais categorias de drogas, o que pode indicar que as pessoas que injetam drogas injetam frequentemente mais do que uma substância ou que as seringas são reutilizadas. Em ambos os casos, essas pessoas estão expostas a danos significativos.
Durante a última década, a Europa observou pelo menos sete surtos documentados de VIH em cidades provocados, pelo menos em parte, pelo consumo de estimulantes injetáveis. São necessários níveis elevados de prestação de serviços de redução de danos para prevenir danos agudos e crónicos, mas os níveis atuais continuam a ser inadequados em vários países da UE. Isto é especialmente verdade no caso dos programas de agulhas e seringas, cujos níveis de fornecimento em muitos países da UE são inferiores às recomendações da OMS.
As potenciais utilizações terapêuticas dos psicadélicos suscitam questões políticas

Está a progredir rapidamente a investigação sobre terapias assistidas por substâncias como a psilocibina, a DMT e o LSD para doenças neuropsiquiátricas difíceis de tratar, como a perturbação de stress pós-traumático e a depressão resistente ao tratamento. Embora algumas substâncias psicadélicas se tenham revelado promissoras no alívio de sintomas específicos associados a estas perturbações, a generalização nesta área continua a ser difícil, em parte devido ao grande número de substâncias em estudo e em parte devido à vasta gama de doenças que estão a ser estudadas.
Algumas jurisdições fora da União Europeia começaram a regulamentar a utilização de psicadélicos para fins médicos e terapêuticos, suscitando um interesse comercial significativo. Ao mesmo tempo, os dados disponíveis mostram a presença em todos os países da UE de práticas não regulamentadas ou ilegais que envolvem substâncias psicadélicas em intervenções de bem-estar, terapêuticas ou de orientação espiritual. Estas práticas envolvem normalmente a utilização de substâncias como a psilocibina, a ayahuasca (N,N-dimetiltriptamina ou DMT) e a 5-metoxi-N,N-dimetiltriptamina (5-MeO-DMT). Os eventos costumam envolver ambientes de grupo dirigidos por diversos facilitadores, xamãs ou treinadores. Em alguns países, operam de forma relativamente aberta, mas noutros permanecem na clandestinidade. Embora alguns destes tratamentos aleguem integrar elementos de apoio terapêutico, a maioria opera fora das estruturas formais de cuidados de saúde, muitas vezes em espaços ilegais, não regulamentados ou ambíguos do ponto de vista jurídico. Existem riscos envolvidos nestas práticas emergentes, em especial para as pessoas vulneráveis e as pessoas com problemas de saúde mental preexistentes. Faltam boas práticas baseadas na investigação ou orientações normalizadas.
Se as práticas psicadélicas organizadas e não regulamentadas continuarem a propagar-se, um desafio fundamental para os decisores políticos e profissionais de saúde será compreender melhor o âmbito e o impacto destas atividades, bem como os riscos para a saúde associados e as respostas de redução de danos. Será crucial aumentar esforços de monitorização para fazer face à evolução do panorama do consumo de psicadélicos na Europa. Uma publicação recente da EUDA aborda perguntas frequentes sobre substâncias psicadélicas.
A resposta aos problemas da droga nas prisões europeias continua a ser um desafio

Os inquéritos indicam que os reclusos na União Europeia referem níveis elevados de prevalência ao longo da vida do consumo de substâncias antes da prisão e níveis mais altos de consumo, especialmente de heroína, cocaína e anfetaminas, em comparação com a população em geral. Embora a gama de serviços destinados às pessoas com problemas de droga nas prisões europeias tenha melhorado nos últimos anos, continua a ser necessário intensificar algumas respostas, tanto durante a detenção como após a libertação.
As drogas são introduzidas nas prisões de várias formas, nomeadamente através da ocultação interna por parte dos reclusos, dos visitantes e, em alguns casos, do pessoal, bem como através do tráfico por drones. Podem ficar favorecidas substâncias potentes, como os canabinoides sintéticos, os opiáceos e vários medicamentos, uma vez que são mais fáceis de ocultar. Estas substâncias representam ameaças graves para a saúde dos reclusos, incluindo o risco de overdose. Em 2024, na Irlanda, por exemplo, foram notificados três surtos de envenenamento e de overdose em prisões. Quando as drogas são injetadas, num contexto de acesso limitado a equipamento de injeção esterilizado, aumentam os riscos de transmissão de vírus transmitidos pelo sangue, incluindo o VIH e o VHC.
Quase todos os países da UE referem que o acesso ao tratamento com agonistas de opiáceos está disponível em, pelo menos, algumas das suas prisões. No entanto, são muito poucos os que referem a disponibilização de programas de distribuição de agulhas e seringas ou de programas de naloxona para prevenir mortes por overdose, continuando a ligação aos cuidados de doenças infecciosas a ser limitada em muitos países da UE para os reclusos. O conjunto de ferramentas do ECDC e da EUDA para a eliminação da hepatite nas prisões apoia a melhoria das atividades que visam as doenças infecciosas nesta subpopulação.
Num relance
Dados de origem
O conjunto completo de dados de base para o Relatório Europeu sobre Drogas de 2025, incluindo metadados e notas metodológicas, está disponível no nosso catálogo de dados.
Pode ser consultado abaixo um subconjunto destes dados, utilizado para gerar infografias, gráficos e elementos semelhantes nesta página.